Crítica: 'Quarteto Fantástico'

Reboot sobre grupo de heróis da Marvel estreia nesta quinta-feira, 6 de agosto

Quarteto Fantástico” conta a história de quatro jovens que são conhecidos pela inteligência e pelas dificuldades de inserção social. Juntos, são enviados a uma missão perigosa em uma dimensão alternativa. Quando os planos falham, eles retornam à Terra com sérias alterações corporais. Munidos destes poderes especiais, eles se tornam o Senhor Fantástico (Miles Teller), a Mulher Invisível (Kate Mara), o Tocha Humana (Michael B. Jordan) e o Coisa (Jamie Bell). O quarteto se une para proteger a humanidade do ataque do Doutor Destino (Toby Kebbell).

Esqueça o que você viu no cinema sobre o “Quarteto Fantástico”. E nem pense em comparar o filme que estreará nesta quinta-feira, 6 de agosto, com o antigo. As duas obras não se parecem e esta é questão principal de uma discussão muito levantada: como não assemelhar, mesmo que despretensiosamente, duas obras que falam de um mesmo assunto, o quarteto de heróis mais famosos da história em quadrinhos?

Pois bem, a história é (bem) diferente da original. Em vez de viagem espacial, há um teletransporte interdimensional. Há mudanças gritantes na estrutura da proposta, que podem desagradar de verdade os mais aficionados. No entanto, existem algumas interessantes nesta construção. Vá sem preconceito assistir a este filme. Embora as alterações possam parecer loucas e estranhas, elas são bem amarradas no roteiro. Abra os olhos para o futuro, como o próprio filme diz. A experiência pode ser legal.

A trilha sonora soa de leve sem chamar muita a atenção, funcionando de forma perfeita ao casar com os momentos em que se faz presente. Os efeitos especiais são de impressionar, muito embora haja luzes, explosões e outras coisas, o tom é tenebroso e funesto. Takes de espaços abertos dão dimensão exata dos cataclismos pertencentes a decisivas cenas.

Miles Teller faz um bom trabalho como Reed Richards, embora no começo pareça não dar conta do recado. Sue Storm, de Kate Mara, tem um ar seco, que vai se perdendo ao decorrer do longa, deixando-a mais acessível. O Tocha Humana, de Michael B. Jordan, mostra-se próximo da ideia original da Marvel, porém com tons mais leves de humor. Jamie Bell na pele (literalmente) do Coisa/Jamie Bell mostra um jovem centrado e que sofre com a mudança corporal mais drástica.

Falando em sofrimento, este filme mostra muito o lado humano dos personagens. Dor, raiva, inveja, preconceito são algumas das questões bem exploradas. Tão exploradas que o filme parece ser drama em vez de ação. O projeto é sombrio, dark e algumas cenas lembram clássicos de terror, pela forma fria como tratam as emoções dos personagens. Parece ser mais reflexivo do que de ação.

O filme em si parece convergir em duas figuras: Dr. Franklin Storm (interpretado por Reg E. Cathey) e Harvey Elder (Tim Blake Nelson). A construção do roteiro foca muito na atuação de ambos e em momentos específicos o quarteto em si parece ser coadjuvante, marionete ou bichos de estimação.

Os próprios heróis parecem distantes. Embora haja até certo envolvimento emocional no decorrer da história, parece que os personagens estão cada um por si. Reed, Sue e Johnny têm lutas individuais que os deixam frios. Quase no fim o espírito de união toma conta de todos, quase como um instinto de sobrevivência: é preciso parar o que se achava que existia mais.

Uma questão relevante é o tratamento dado ao caminho para o clímax. Tudo é “resolvido” de forma muito rápida. O desenrolar desde que Victor se torna efetivamente Dr. Destino até o fim é desnecessariamente ligeiro. E isso se dá por um alongamento no enredo inicial da questão de explicar todo o processo de criação e uso do teletransportador. Há um desiquilíbrio evidente. Com tanto “material” posicionado logo no começo, quando chega a hora do “pau”, como diz o personagem Coisa, sente-se falta de mais ação. Ela até acontece, mas por ser um filme de super-heróis, o público merecia ver mais. Doom é mostrado quase como um deus; intocável, frio e distante até do seu propósito.

Analisando “Quarteto Fantástico”, nota-se que há todo um cuidado em pisar com cuidado para não chocar os espectadores. Como se o caminho fosse de vidro e não houvesse a intenção de quebrá-lo, pois não se sabe o dia de amanhã e se haverá continuação desse projeto. Não espere grandes surpresas no fim. Nada de cenas pós-créditos. Esta obra entrega bem a demanda para qual foi proposta, embora não seja tão explícita assim: distanciar uma obra da outra, na briga confusa entre Fox e Marvel sobre direitos. De forma satisfatório, enche os olhos, mas peca pela falta de atitude. Tudo bem que o filme foi baseado na série em quadrinhos chamada “Ultimate Quarteto Fantástico”, mas levar para as telas de cinema uma história conhecida apenas por parte do público em si pareceu mais pirraça do que outra coisa.

Filme “Quarteto Fantástico”

Direção: Josh Trank
Gênero: Ação
País: Estados Unidos
Ano: 2015
Duração: 106 minutos
Distribuição: Fox
Diretor: Josh Trank
Roteiro: Simon Kinberg / Jeremy Slater

Assista ao trailer de “Quarteto Fantástico”