Crítica: ‘Os Oito Odiados’, de Quentin Tarantino

Uma fábula com lição de moral ao final e tudo. Assim, pode-se definir o novo "Os Oito Odiados" de Quentin Tarantino.

Uma fábula com lição de moral ao final e tudo. Assim, pode-se definir o novo “Os Oito Odiados” de Quentin Tarantino. Mais uma vez o diretor americano investe em personagens cheios de conflitos entre o “bem” e o “mal” o ser e o estar, o humano e o animal para tecer sua nova trama. O segundo western do diretor e 39º filme da carreira de Tarantino que já ganhou dois Oscar, um de roteiro original por “Pulp Fiction” e outro por Django Livre (o primeiro faroeste), “Os Oito Odiados” pode ser considerado o grande amadurecimento da carreira do diretor que já declarou: “Dizem que é preciso você fazer três westerns para ser considerado um diretor de westerns”.

Cena de "Os Oito Odiados', de Quentin Tarantino (Foto: Divulgação)
Cena de “Os Oito Odiados’, de Quentin Tarantino (Foto: Divulgação)

Diferente do formato dos tradicionais filmes envolvendo cowboys, este se passa em meio a neve devastadora no caminho de uma cidadezinha fictícia: Red Rock. Durante uma nevasca, o carrasco John Ruth (Kurt Russell) está transportando sua prisioneira, a famosa Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), que ele espera trocar por grande quantia de dinheiro. No caminho, os viajantes aceitam transportar o caçador de recompensas Marquis Warren (Samuel L. Jackson), que está de olho em outro tesouro, e o xerife Chris Mannix (Walton Goggins), prestes a ser empossado em sua cidade. Como as condições climáticas pioram, eles buscam abrigo no Armazém da Minnie, onde quatro outros desconhecidos estão abrigados. Aos poucos, os oito viajantes no local começam a descobrir os segredos sangrentos uns dos outros, levando a um inevitável confronto entre eles.

Cena de "Os Oito Odiados', de Quentin Tarantino (Foto: Divulgação)
Cena de “Os Oito Odiados’, de Quentin Tarantino (Foto: Divulgação)

Tarantino mais uma vez fala de forma antropológica sobre o homem e suas escolhas, suas relações sociais, e seus preconceitos. Como em uma tragédia Shakespeariana não existem bons e maus, mocinhos e bandidos. Todos são reais e tem suas motivações, sejam elas mais ou menos questionáveis. Como em filmes passados, os personagens que se configuram através da direção e do roteiro do diretor deixam brechas para que o espectador tire suas próprias conclusões. Em os “Oito Odiados”, como já visto em “Kill Bill 1 e 2” todos ali são seres humanos errantes e com possibilidades ilimitadas. Mesmo que as cenas de ação sejam assustadoramente surreais, o que já é uma assinatura inegável do diretor e portanto não deixaria de haver.

Cena de "Os Oito Odiados', de Quentin Tarantino (Foto: Divulgação)
Cena de “Os Oito Odiados’, de Quentin Tarantino (Foto: Divulgação)

Fica o trunfo de ao espectador, fã ou não do trabalho do diretor, se prestar a assistir aos “Os Oito Odiados” mais de uma vez, não pelas cenas de ação, que este filme trata de forma mais “soft” do que nos anteriores, mas sim pela riqueza de detalhes que Tarantino deixa sempre entrever em suas películas. Resta esperar o próximo filme para saber se realmente Tarantino irá enveredar pelos caminhos do Western como já declarou, ou se vai mudar os rumos desta trajetória, assim como a de seus personagens. O diretor mais uma vez deixa a brecha do “tudo é possível”, ainda mais se tratando de Tarantino.

Os Oito Odiados (The Hateful Eight)

De Quentin Tarantino.
Com Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Tim Roth, Michael Madsen, Bruce Dern, James Parks, Walton Goggins e Demián Bichir.
Faroeste, EUA, 2015, 168min.

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